Vice-diretora critica gestão militar e chama tenente de “cagão”

Há mais de um mês, a vice-diretora do Centro Educacional 01 (CED 01) da Cidade Estrutural tem feito críticas e denúncias sobre o comportamento de um tenente da Polícia Militar do DF (PMDF) que ocupa o cargo de diretor disciplinar da escola, que tem gestão cívico-militar. No último dia 11, o militar registrou uma ocorrência por difamação contra a servidora, que, em um áudio enviado à diretora da escola, o chamou de “tenente cagão”. Em entrevista ao Correio, nesta terça-feira (26/4), Luciana Martins, vice-diretora da instituição, revelou os motivos para ter ofendido o militar na gravação.

O embate, que foi parar na delegacia, começou no início deste ano, de acordo com a servidora. Segundo Luciana, desde que assumiu o cargo, o diretor disciplinar da escola prioriza certos alunos, com “sessões de coaching e balinhas”, enquanto trata outros com maior rigidez, à exemplo de estudantes que foram levados à Delegacia da Criança e do Adolescente (DCA) por suposto desacato ao policial em sala de aula.

“Um aluno que se envolveu em uma briga, por exemplo, foi levado para a sala do tenente, onde apenas chupou balinha e recebeu sessão de coaching. Enquanto isso, duas alunas, que se envolveram em outra briga, foram levadas à DCA por ele. E eu estou questionando essas situações há dias: por que alguns alunos estão sendo tratados como criminosos na escola?”, reclamou a vice-diretora.

A professora também disse à reportagem que, no início de março, solicitou que a unidade regional de ensino e o Comando de Gestão Compartilhada da PMDF tomassem alguma atitude em relação à metodologia aplicada no CED 01 da Estrutural, mas que, desde então, nada mudou. “Eu respeito e aceito o projeto de gestão compartilhada com a PM, mas não passando por cima dos alunos assim. Ele simplesmente escolhe alguns alunos para serem punidos e outros para serem agraciados”, explicou. “E tudo isso já foi levado ao tenente, à PM, mas eu nunca obtive uma resposta”.

Luciana também relatou que o diretor disciplinar não dialoga com a direção e professores da escola antes de tomar decisões que punem e afetam os estudantes. “A função dele é colocar disciplina, mas estou questionando a forma como ele faz isso”, disse. “Por isso, enviei um áudio à diretora da escola desabafando sobre essa situação toda, porque ela estava de férias, e na gravação eu citei que esse tenente é um cagão porque não ele tem coragem de vir aqui na sala e conversar comigo. Foi um momento de conversa particular minha com a diretora, mas ela encaminhou esse áudio a ele”, explicou a vice-diretora.

Desacato policial

De acordo com a servidora, um episódio que acirrou o desentendimento foi o dia em que o tenente levou um aluno de 13 anos à DCA, depois que o jovem teria desacatado o policial. “A mãe desse garoto não foi avisada que o aluno seria levado à delegacia, então ela chegou na escola muito exaltada, brigou comigo e com os policiais que estavam no corredor, começou a bater boca. Ela só parou porque eu peguei ela pela cintura, dei um copo d’água e falei que levaria ela a DCA, porque ela tinha que assinar um termo para liberar o filho, mas ela não tinha dinheiro e nem documentos em mãos para chegar lá sozinha”, explicou.

A mãe do adolescente, Francisca de Souza, disse ao Correio que o filho dela não estava usando a blusa do uniforme da escola, e que por isso foi levado à delegacia. De acordo com ela, não houve “desacato”, e o adolescente apenas “deixou de responder” aos questionamentos do policial. “Ele quer sair da escola porque se sente oprimido e perseguido lá dentro, mas eu não achei vaga em outra escola ainda para fazer a transferência”, contou a moradora da Estrutural.

Após o episódio, o tenente enviou uma mensagem a um grupo de WhatsApp onde estão incluídos pais e responsáveis pelos estudantes. Na mensagem, encaminhada à reportagem, o tenente disse que o aluno foi conduzido a delegacia por desrespeitar policiais, o que caracteriza “infração de situação análoga a desacato”. O tenente também escreveu que a mãe do jovem foi à escola, xingou a equipe policial, e que na ocasião, a mulher teria dito que faria uma manifestação contra a presença da PM, e que chamaria os “traficantes da cidade para invadir a escola”.

“Ela não foi presa porque foi retirada da escola pela professora Luciana Pain em seu veículo particular”, dizia a mensagem do policial. Em resposta, a mãe do adolescente disse que não fez as ameaças citadas pelo tenente e que ainda pretende acionar a Defensoria Pública para denunciar o tratamento que alunos têm recebido no CED 01 da Estrutural.

O outro lado

O Correio procurou a Secretaria de Educação, a Polícia Civil e a PMDF para comentar o assunto. Em nota, a Secretaria disse que “o modelo das escolas cívico-militares já está consolidado com sucesso no Distrito Federal” e que são 11 unidades de ensino com gestão compartilhada entre as secretarias de educação e de segurança pública, e outras quatro com o Ministério da Educação. “Casos pontuais são averiguados pelas pastas, para adoção de providências cabíveis a cada situação”, informou a pasta.

A Polícia Militar informou que o policial em questão registrou ocorrência contra a vice-diretora do CED 01, depois que a educadora o xingou “em um áudio enviado por meio do WhatsApp”, e que o tenente apresentou prints, áudios e vídeos que comprovam a gravação. Segundo a corporação, a Secretaria de Educação já foi comunicada sobre o fato para que tome providências pertinentes.

“Importante destacar que, em regra geral, as escolas Cívico-Militares têm boa convivência entre a direção disciplinar e a direção pedagógica, por serem construídas em ações disciplinares e, dessa forma, são como espelho a ser seguido pelos alunos. O caso ocorrido no CED 01 da Estrutural é pontual e não representa a realidade dos Colégios Cívico-Militares em que a PMDF participa”, reforçou a PMDF, em nota.

A PCDF confirmou o registro de ocorrência por difamação e injúria contra Luciana Martins e informou que a 8ª Delegacia investiga o caso. O Correio também tentou entrar em contato com o tenente, por meio de mensagens e ligações, mas até o momento, não obteve retorno. O espaço segue aberto para manifestações.

By Camila Freitas

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