A intensificação da guerra tarifária entre China e Estados Unidos em 2025 está impactando diretamente o setor de luxo, expondo práticas até então pouco discutidas pelo público geral. Com tarifas de até 145% sobre produtos chineses impostas pelo governo Trump e retaliações chinesas que atingem até 125% para produtos americanos, a tensão global não poupa nem mesmo os mercados mais exclusivos. Para a consultora de moda Adriana Verbicario, o momento é de ruptura na imagem construída por marcas de luxo: “Estamos vendo o colapso de uma narrativa que sempre se vendeu como sinônimo absoluto de origem e qualidade.”

Durante décadas, casas europeias como Louis Vuitton, Hermès e outras grandes marcas usaram a produção chinesa como recurso estratégico para manter margens de lucro elevadas, sem abrir mão do controle de qualidade. Essas peças, muitas vezes finalizadas na Europa, recebiam o selo “Made in Italy” ou “Made in France”. Segundo Adriana Verbicario, essa prática começa a ser desafiada à medida que os consumidores se informam mais: “A etiqueta ainda pesa, mas o consumidor de 2025 quer saber o que está por trás do rótulo — e está começando a questionar o valor real do produto.”

O impacto das novas tarifas pode forçar as grifes a repensarem suas cadeias de suprimentos ou repassarem os custos ao consumidor final. Itens de luxo podem se tornar ainda mais caros ou ter sua margem reduzida, pressionando os modelos de negócio tradicionais. Adriana Verbicario, que é conhecida por seu olhar crítico sobre os bastidores da moda, observa que “a indústria do luxo sempre operou em um território de exclusividade simbólica, mas agora está sendo cobrada por transparência prática.”

Paralelamente, vídeos virais nas redes sociais, especialmente no TikTok, mostram fábricas chinesas produzindo peças supostamente idênticas às de marcas de luxo. Um dos vídeos mais vistos mostra a confecção de uma bolsa semelhante à Birkin por US$ 1.400, enquanto a original é vendida por US$ 38.000. Apesar de especialistas alertarem que muitos desses vídeos podem vir de fabricantes de falsificações, o dano à imagem já está feito. Para Adriana Verbicario, “a percepção de valor do luxo está em xeque. O público está cada vez mais cético e conectado, pronto para investigar o que antes era intocável.”

Algumas marcas, como Louis Vuitton e Lululemon, negam que seus produtos sejam finalizados na China, tentando preservar sua reputação. No entanto, mesmo sem comprovação, os vídeos e conteúdos virais já estão moldando a nova mentalidade do consumidor. A ideia de que “luxo é pagar pela marca, e não pela qualidade” está ganhando força, o que pode forçar as grifes a adotarem novas estratégias de comunicação, produção e marketing.

O cenário atual é de redefinição para a indústria de luxo. A guerra comercial apenas acelerou um processo que já estava em curso: consumidores mais informados, exigentes e atentos ao que realmente estão comprando. Adriana Verbicario conclui: “O luxo do futuro não será apenas sobre status, mas sobre ética, autenticidade e transparência.”

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